É consenso entre os principais órgãos históricos e científicos mundialmente reconhecidos que, nos primórdios da humanidade, os primeiros seres humanos a transitarem pela terra eram nômades, pois em virtude da necessidade de subsistência, deslocavam-se de um lugar para o outro procurando melhores condições de sobrevivência.
No entanto, desde a pré-história até a idade contemporânea que corresponde ao período atual ocorreram inúmeras mudanças, raramente ouvimos falar em nômades, já que a realidade atual permite habitação fixa, controle remoto, compras via internet e diversas outras situações inimagináveis anos atrás.
Ocorre que, aparentemente ser algo muito positivo, as evoluções tecnológicas tornaram o ser humano cada vez mais sedentário, pela falta de prática de exercício físico, longas jornadas em frente ao computador e, principalmente pela comodidade de compras online, resultando uma consequência direta à saúde.
Infelizmente, esse estilo de vida em excesso aderido por muitas pessoas tem prejudicado a sua saúde corporal, ocasionando o acúmulo excessivo de gordura no corpo, que conhecemos como obesidade. Para elucidar melhor o tema, a Dra. Marie Piazza, médica que trabalha diariamente com o assunto, nos auxiliou:
A obesidade hoje é reconhecida como uma doença metabólica crônica, onde o excesso de gordura corporal implica em prejuízo progressivo à saúde, redução da qualidade de vida e mortalidade precoce. É considerada uma porta de entrada para outras doenças como diabetes, hipertensão arterial, depressão e ansiedade, doenças hepáticas, respiratórias, isquêmicas e, até mesmo, fator de risco para11 tipos de neoplasias.
A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial. Fatores genéticos, epigenéticos, comportamentais e ambientais convergem a favor de um desequilíbrio metabólico que, após instalado, o problema se torna crônico e tende à recorrência mesmo após o tratamento. Hoje, o termo "obesidade controlada" é proposto quando o paciente consegue perder o peso indicado.
A Dra. Marie ainda ressaltou a importância do tratamento:
O tratamento tem como base a mudança no estilo de vida, como alimentação equilibrada e prática regular de exercício físico. Também há indicação de tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico, assim como o acompanhamento multiprofissional é essencial, durante e após o tratamento para evitar o reganho de peso. Estima-se que uma perda de peso em 10% já seria suficiente para reduzir as comorbidades.
Cientes que a obesidade é questão de saúde pública, o Estado não pode se fazer omisso, pois saúde pública é direito constitucional, conforme previsto no artigo 196 da Constituição Federal. Com isso, o Ministério da Saúde adota estratégia intersetorial (que se efetiva e se desenvolve entre dois ou mais setores) para reduzir e controlar os casos de obesidade, pautado em seis tópicos principais:
1. Disponibilidade e acesso a alimentos adequados e saudáveis;
2. Ações de educação, comunicação e informação;
3. Promoção de modos de vida saudáveis em ambientes específicos;
4. Vigilância Alimentar e Nutricional;
5. Atenção integral à saúde do indivíduo com sobrepeso/obesidade na rede de saúde; e,
6. Regulação e controle da qualidade e inocuidade de alimentos.
No entanto, não se visualiza efetividade da respectiva previsão, tendo em vista que o número de pessoas obesas tem aumentado cada vez mais. Com isso, faz o SUS(Sistema Único de Saúde) o braço forte no combate a obesidade, tratando os pacientes com hipertensão, diabetes e até mesmo realizando cirurgia bariátrica, tão conhecida como “redução de estômago”.
É fato que, a cirurgia bariátrica tem um alto valor, assim, só é permitida a realização pelo Sistema Unificado de Saúde se preenchido alguns requisitos, entre eles: paciente diagnosticado com obesidade mórbida, maior de 16 anos e menor de 65 e o mais importante é a estabilidade emocional.
Vale ressaltar que o paciente que preencher os requisitos e não obtiver sucesso administrativamente na realização cirúrgica em tempo hábil adequado, conforme prescrição médica, será possível ingressar com medida judicial para realizar o procedimento, podendo já ser pedido liminarmente dependendo do caso.
Durante o processo administrativo de pedido da cirurgia, o paciente tem direito e deverá sujeitar-se a acompanhamento, passando por alguns profissionais da saúde, tais como: como nutricionista, endocrinologista, gastroenterologista, psicólogo.
Sobreo assunto, a Dra. Marie complementou:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) trata a obesidade hoje como epidemia, assim como também tem se discutido sobre a repercussão na economia pública, e o risco de falência do sistema único de saúde (SUS) caso a incidência do problema continue aumentando. É nítida a necessidade da intervenção do governo na criação de políticas públicas contra esta doença. Recentemente foram impostas novas regras na rotulagem dos alimentos, mas ainda não há legislação sobre a quantidade de açúcar adicionado nos alimentos industrializados, por exemplo.
Por fim, é importante ressaltar a atenção à saúde e, não estamos falando de estética, do padrão estético enraizado (que adoece muitas pessoas), mas do bem-estar da pessoa, pois o que importa é estar com sua saúde física e mental em dia, pouco importando o seu biotipo corporal. Lembrando ainda, que qualquer discriminação sofrida neste sentido, a vítima poderá recorrer à esfera cível e criminal.
E, quando o sobrepeso corporal se tornar um problema à sua saúde física, não espere em buscar ajuda, tampouco deixe de apoiar a pessoa ao seu lado que se encontrar nesta situação, pois conforme bem lembrado pela Dra. Marie: “Obesidade não é falta de força de vontade.”
O HGZ repudia qualquer discriminação à pessoa com obesidade, assim como possui princípios preventivos de saúde física e mental. Se priorize, cuide da sua saúde física e mental, buscando sempre sua melhor versão e, claro, conte sempre conosco!
Participação:
Dra.Marie Piazza Pagnan
Médica, pós-graduada em nutrologia pela USP
CRM-SC22535
Fontes:
Ministério da Saúde
(Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategias_cuidado_doenca_cronica_obesidade_cab38.pdf - https://bvsms.saude.gov.br/cirurgia-bariatica/);
Dias, Patricia Camacho et al. Obesidade e políticas públicas: concepções e estratégias adotadas pelo governo brasileiro. Cadernos de Saúde Pública.(Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00006016)